Ivã: Não, não há Deus.
Fiódor: Aliócha, Deus existe?
Aliócha: Sim, existe.
Fiódor: Ivã, há imortalidade? Por pequena que seja, por mais
modesta?
Ivã: Não, não há.
Fiódor: Nenhuma?
Ivã: Nenhuma.
Fiódor: Quer dizer, um zero absoluto ou uma parcela? Não
haveria uma parcela?
Ivã: Um zero absoluto.
Fiódor: Aliócha, há imortalidade?
Aliócha: Sim.
Fiódor: Deus e a imortalidade juntos?
Aliócha: Sim. É em Deus que repousa a imortalidade.
Fiódor: Hum! Deve ser Ivã quem tem razão. Senhor, quando se
pensa quanto de fé e de energia essa Quimera tem custado ao homem, em pura
perda, desde milhares de anos! Quem, pois, zomba assim da humanidade? Ivã, pela
derradeira vez e categoricamente: há um Deus, sim ou não?
Ivã: Não, pela derradeira vez.
Fiódor: Quem, pois, zomba do mundo, Ivã?
Ivã: O diabo, provavelmente – escarneceu Ivã.
Fiódor: O diabo existe?
Ivã: Não.
"(...) Não acredito em Deus porque nunca o vi
ResponderExcluirSe ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(...)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar(...)"
(Trecho de "O Guardador de Rebanhos", Alberto Caeiro(Fernando Pessoa))