terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Origem de nossa Instabilidade

"Mãe, monogamia, romantismo. A fonte jorra bem alto; o jato é impetuoso e branco de espuma. O impulso não tem mais que uma saída. Não é de admirar que esses pobres pré-modernos fossem loucos, perversos e desgraçados. Seu mundo não lhes permitia aceitar as coisas naturalmente, não os deixava ser sãos de espírito, virtuosos, felizes. Com suas mães e seus amantes; com suas proibições, para os quais não estavam condicionados; com suas tentações e seus remorsos solitários; com todas as suas doenças e intermináveis dores que os isolavam; com suas incertezas e sua pobreza - eram forçados a sentir as coisas intensamente. E, sentindo-as intensamente (intensamente e, além disso, em solidão, no isolamento irremediavelmente individual), como poderiam ter estabilidade?"

HUXLEY, Aldous - Admirável Mundo Novo

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Filosofia HUXLEY

"Todos os moralistas estão de acordo em que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se , melhor na próxima vez Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer as más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo."

Aldous Huxley - Prefácio 1946 - AMN

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Tai-pan

" Se não esta disposto a ser o segundo melhor, 'embarca o' quanto antes. O que eu estou a tentar fazer-te compreender é que para ser o Tai-Pan da Casa Nobre tem de se estar preparado para existir só, ser odiado, ter qualquer objetivo de valor imortal, e estar preparado para sacrificar qualquer pessoa de quem não se sinta seguro. Porque és meu filho ofereço-te hoje,  não experimentada, a oportunidade do poder supremo na Ásia. E por isso o poder de fazer quase tudo sobre a terra."
(CLAVELL, James, Tai-Pan.)


domingo, 30 de junho de 2013

Poema sem Título e sem Autor

Em uma folha de papel amarelo com linhas verdes ele escreveu um poema
E o intitulou "Chops" porque era o nome de seu cão
E era o que estava em toda parte
E seu professor lhe deu um A e uma estrela dourada
E sua mãe o abraçou à porta da cozinha e leu o poema para as tias
Era o ano em que o padre Tracy levava todas as crianças ao zoológico
E ele deixou que cantassem no ônibus
E sua irmãzinha tinha nascido com unhas minúsculas e nenhum cabelo
E sua mãe e seu pai se beijaram tanto
E a garota da esquina mandou para ele um cartão de Dias dos Namorados assinado com vários X
e ele teve de perguntar ao pai o que significava X
E seu pai deixou que ele dormisse na sua cama à noite
E era sempre lá que ele dormia
Em uma folha de papel com linhas azuis ele escreveu um poema
E o intitulou "Outono"
porque era o nome da estação
E era o que estava em toda parte
E seu professor lhe deu um A
e o pediu para escrever com mais clareza
E sua mãe não o abraçou à porta da cozinha por causa da pintura nova
E as crianças disseram a ele que o padre Tracy fumava cigarros
E largava as guimbas no banco da igreja
E às vezes elas faziam buracos
Que era o ano de sua irmã usar óculos com lentes grossas e armação preta
E a garota da esquina riu
quando ele pediu para ver Papai Noel
E os garotos perguntaram por que
a mãe e o pai se beijavam tanto
E seu pai não o cobria mais na cama à noite
E seu pai ficou furioso
quando ele chorou por isso.
Em um pedaço de papel de seu caderno
ele escreveu um poema
E o intitulou "Inocência: Uma Questão"
porque a questão era sobre uma garota
E isso estava em toda parte
E seu professor lhe deu um A
e um olhar muito estranho
E sua mãe não o abraçou à porta da cozinha
porque ele nunca o mostrou a ela
Foi o primeiro ano depois da morte do padre Tracy
E ele esqueceu como terminava
o Creio em Deus Pai
E ele pegou a irmã
se agarrando na varanda dos fundos
E sua mãe e seu pai nunca se beijavam
nem mesmo conversavam
E a garota da esquina
usava maquiagem demais
O que fez ele tossir quando a beijou mas ele a beijou mesmo assim porque era a coisa certa a fazer
E às três da manhã ele se aninhou na cama seu pai roncava alto
É por isso que no verso de uma folha de papel pardo
ele tentou outro poema
E o intitulou de "Absolutamente Nada"
Porque era o que estava em toda parte E ele se deu um A
e um corte em cada maldito pulso
E se encostou na porta do banheiro porque nessa hora ele não pensou que poderia alcançar a cozinha.

(Extraído da Obra de Stephen Chbosky,As Vantagens de Ser Invisível)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Invictus


                                  William E Henley

OUT of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
   
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
   
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

Tradutor: André C S Masini

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sobre a Juventude

" É ilusão pensar que a mocidade seja feliz, uma ilusão daqueles que a perderam. Os jovens sabem que são miseráveis, pois alimentam os falsos ideais que lhes foram incutidos e todas as vezes que entram em contato com o real sentem-se magoados e contundidos. Dir-se-ia serem vítimas de uma conspiração. Os livros que lêem, livros ideais pela necessidade de seleção, e a conversa dos mais velhos, que olham para o passado através da nuvem rosada do esquecimento, preparam-no para a vida irreal. São obrigados a descobrir por si próprios que tudo o que leram e tudo o que lhes ensinaram é mentira, mentira, pura mentira. Cada nova descoberta é mais um prego que lhes fixa o corpo a cruz da vida."



(Maugham, S. W. - Servidão Humana)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Limitação dos olhos


                                                                                                                           D.M.Bontorin
                                                                                                          para Rafaela T.

Nós, em toda nossa limitação, tentamos enquadrar as cores, as pessoas, em determinados grupos. Esses grupos podem ser restritos: os verdes, os vermelhos, os amarelos. Ou ainda, podem ser grupos maiores: cores frias, cores quentes, tons terrosos, claras, escuras, etc. 
Suprimisse ao máximo qualquer capacidade de individualidade, de unidade, de ser não um azul mas um azul cerúleo. 
O que mais atormenta minha alma é ter consciência dessa predisposição  a classificar as cores, as pessoas, e mesmo assim não ser capaz de não o fazer. 
Controlo-me ao máximo, faço analise do meu próprio comportamento e no fim estou discriminando, dizendo que um laranjado nunca será puro pois ele não é um vermelho e nem um amarelo. Demora um tempo até eu perceber o que estou fazendo, até eu parar e perceber: "ele simplesmente o laranjado, ele não tem que ser nem tão vivo como o vermelho, nem tão intenso como o amarelo e se eu chegar mais perto perceberei que mesmo se eu o comparar aos outros laranjados ele ainda será diferente, será único. Comparações são desnecessárias".
Aceito esse fato, aceito o laranjado, mas quando viro os olhos me deparo com o lilas, "que cor mais imprópria, não decide quem quer ser: é uma cor fria ou uma cor quente? como é que eu vou saber. Acho melhor deixa-la de lado e usar o bom e velho laranjado."

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Jerusalem

William Blake  (1804)


And did those feet in ancient time
Walk upon England’s mountains green?
And was the Holy Lamb of God
On England’s pleasant pastures seen?

And did the countenance divine
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my bow of burning gold!
Bring me my arrows of desire!
Bring me my spear! O clouds, unfold!
Bring me my chariot of fire!

I will not cease from mental fight,
Nor shall my sword sleep in my hand,
Till we have built Jerusalem
In England’s green and pleasant land.


Jerusalem, 1804, poema de William Blake, se tornou um hino (não oficial) para os Ingleses. Nele Blake traz a beleza da Inglaterra, bem como a degradação encontrada em seu seio e a necessidade de lutar contra essa. David Erdman, em seu livro Blake: Prophet Against Empire, mostra que Satanic Mills se refere as fábricas de Londres.