sexta-feira, 23 de março de 2018

23 de março 18

Olho para o que está registrado nestes postes e me pergunto se eu somente sei escrever quando estou deprimida, quando algo me aflige, quando estou com medo, receio, depressão.
Fazem aproximadamente três anos que não posto nada, então devo ter sido uma pessoa muito feliz, por muitos dias seguidos.
Espero que esta seja a resposta, pois a outra opção é que a minha criatividade está morrendo e esta opção é inenarravelmente mais assustadora que qualquer outro medo com o qual eu possa me deparar.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Lágrimas ou Homens

 
   Quando eu era criança me falaram que homens não choram. E me disseram que a chuva eram as lágrimas que Deus havia derramado pelos pecados dos homens. 
    A partir desse dia a chuva me intriga. Vejo as gotas caírem e me pergunto: se Deus pode chorar por aquilo que ama, por que aos homens não é dado o mesmo direito? Serão os homens melhores do que Deus por não lhes ser permitido chorar? Ou será que as lágrimas são permitidas apenas aos seres superiores, aqueles que não precisam temer que algumas gotas de água lave sua masculinidade?
    Talvez eu venha a encontrar Deus em algum momento. Se isso ocorrer eu sei qual será minha primeira pergunta. E talvez, apenas talvez, ele vire a cara envergonhado, escondendo os olhos inchados e diga timidamente que a humanidade esta enganada, que a chuva não são suas lágrimas, mas apenas uma irritação no olho, o inicio de uma conjuntivite. 

sábado, 30 de agosto de 2014

De que precisamos...

"Não é de livros que você precisa, é de algumas coisas que antigamente estavam nos livros. (...) Os livros eram só um tipo e receptáculo onde armazenávamos muitas coisas que receávamos esquecer. Não há neles nada de mágico. A magia está apenas no que os livros dizem, no modo como confeccionavam um traje para nós a partir de retalhos do universo."

Ray Bradbury - Fahrenheit 451

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

The Second Coming

                                                               by William Butler Yeats

Turning and turning in the widening gyre   
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere   
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst   
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.   
The Second Coming! Hardly are those words out   
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert   
A shape with lion body and the head of a man,   
A gaze blank and pitiless as the sun,   
Is moving its slow thighs, while all about it   
Reel shadows of the indignant desert birds.   
The darkness drops again; but now I know   
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,   
And what rough beast, its hour come round at last,   
Slouches towards Bethlehem to be born?


A Segunda Vinda

Girando e girando a voltas crescentes
O falcão não escuta o falcoeiro.
Tudo se parte, o centro não sustenta.
Mera anarquia avança sobre o mundo,
Marés sujas de sangue em toda parte
Os ritos da inocência sufocados.
Os melhores sem suas convicções,
Os piores com as mais fortes paixões.

É certo, está perto a revelação;
É certo, está perto a Segunda Vinda.
Segunda Vinda! Mal digo as palavras
E a imagem vasta do Spiritus Mundi
Turva-me a vista: no pó de um deserto
Um corpo de leão de crânio humano,
O olhar vazio e duro como o sol,
Move as pernas pesadas, e ao redor
Rondam sombras de pássaros coléricos.
Volta a escuridão; mas eu sei agora
Que o sono pétreo desses vinte séculos
Deu em sonho mau no embalo de um berço.
Qual besta rude, vinda enfim sua hora,
Arrasta-se a Belém para nascer?

(tradução de Paulo Vizioli)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Especulação sobre a Verdade

"O que é a mentira, senão uma verdade na qual não acreditamos? A verdade portanto, por outro lado, é algo tão precioso que devemos guardá-la num cofre como se fosse a nossa própria vida. A verdade é um segredo a latir como um cão no abismo da nossa alma, a verdade é uma pequena estrela a brilhar na escuridão da mentira. A verdade é um apostema, um lúgrebe ciclone, uma fêmea alucinante."

Ana Miranda. A Última Quimera

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre do que o homem é feito

"O homem consiste de mais peças, de mais partes que o mundo; não o que o mundo faz, mas sim o que o mundo é. E se aquelas peças fossem ampliadas, e fossem estendidas para o homem como elas se encontram no mundo, o homem seria um gigante, e o mundo um anão; o mundo, um simples mapa, e o homem, o mundo." (trecho Meditação IV)

Meditações, John Donne

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Origem de nossa Instabilidade

"Mãe, monogamia, romantismo. A fonte jorra bem alto; o jato é impetuoso e branco de espuma. O impulso não tem mais que uma saída. Não é de admirar que esses pobres pré-modernos fossem loucos, perversos e desgraçados. Seu mundo não lhes permitia aceitar as coisas naturalmente, não os deixava ser sãos de espírito, virtuosos, felizes. Com suas mães e seus amantes; com suas proibições, para os quais não estavam condicionados; com suas tentações e seus remorsos solitários; com todas as suas doenças e intermináveis dores que os isolavam; com suas incertezas e sua pobreza - eram forçados a sentir as coisas intensamente. E, sentindo-as intensamente (intensamente e, além disso, em solidão, no isolamento irremediavelmente individual), como poderiam ter estabilidade?"

HUXLEY, Aldous - Admirável Mundo Novo